Você conhece uma costureira? Já viu como se constrói uma peça? Costumo falar que fazer uma roupa é quase um projeto de engenharia. Inclui matemática, raciocínio lógico, noção espacial, muita prática e paciência. Não é fácil, não é tão rápido, não é barato.
Mas tem gente que precisa muito de dinheiro. Do tipo precisa mesmo! E faz todo esse processo difícil/trabalhoso/cansativo em uma velocidade muito alta, com pouquíssimo conforto e recebendo muito pouco em troca porque não tem muita opção. Esse é um problema sistêmico da nossa sociedade que vai ser mudado aos poucos e com ajuda de muitas decisões políticas (especialmente nossas).
O que a gente pode mudar, agora, é o nosso lado da moeda. Um dia ouvi uma menina comentando no salão: “Eu paguei R$14,90 nesse short! Não pago mais que isso!”. O short que ela estava usando com certeza duraria bem mais que as luzes que ela estava fazendo no cabelo, e custou muito mais barato. A questão é que costumamos querer pagar pouco naquilo que damos pouco valor. Simples assim! E quanto menor nosso envolvimento com o processo de construção daquele produto/serviço, mais difícil é agregar valor a ele.
Por isso é tão interessante esse movimento de voltar os olhos para quem faz tudo na nossa sociedade. Quando nos lembramos que aquele objeto passou pela mão de várias pessoas, que colocaram ali seu tempo e talento, que têm naquele trabalho a fonte de desenvolvimento de suas famílias, que também curtem viajar, e também têm vontade de ter coisas boas e também têm necessidades e desejos a realizar, fica mais difícil (ou pelo menos deveria) querer pagar o mínimo possível em tudo.
1 comentário
Ótimos textos, ótimas premissas. Tantas vezes nos sentimos confortáveis na condição de receptores das coisas prontas, sem precisar nos preocuparmos com como tudo nesse mundo é feito. É mais fácil mesmo imaginar que roupas, carros, pratos e ideias brotam nas prateleiras por geração espontânea, pois assim podemos menosprezar a grandiosidade por trás do que garante nosso conforto cotidiano.