Quando eu tinha 15 anos, pedi à minha mãe para fazer um segundo furo na orelha. Na época era moda, e todas as meninas estavam furando. Ela, Mestre dos Magos, me respondeu: se daqui a 6 meses você ainda quiser furar, eu deixo. E foi o bastante. Dali a 6 meses voltei, pedi, e ela disse sim. Fim da história.
--
É engraçado quanta coisa profunda cabe em questões bem rotineiras. Minha mãe sabia, porque as mães sabem, que as vontades entram e saem da mente adolescente como gente do metrô. Quando me pediu 6 meses, ela desafiou a moda. Ela me desafiou a persistir em uma vontade mesmo depois que a tendência passasse. Se durasse, é porque de fato eu queria. E de fato eu queria, como quis muitas coisas que depois fiz ou comprei, usando em mim mesma a técnica que minha mãe me ensinou.
--
As tendências trazem uma coisa que a gente busca muito, que é aprovação social. Elas criam esse lugar confortável, onde não somos questionados, onde a aceitação é mais fácil. Não é pra todo mundo usar amarelo onde todos usam preto. Não é pra todo mundo raspar a cabeça onde todos são cabeludos. Seguir a tendência nos deixa mais de acordo, e daí não temos que nos defender tanto.
--
Não tem certo ou errado. Em alguns momentos, em alguns lugares, com algumas pessoas, esse “saber o que fazer” pode ser muito bom. Traz mais tranquilidade! Mas, no geral, eu ainda costumo ir pela sabedoria da minha mãe: eu me testo. Eu me desafio a bancar minhas escolhas mesmo quando elas não estão em voga. Me ajuda a ser mais dona, me ajuda a entender o que é pra mim e o que é para os outros. E isso, também, traz muita tranquilidade.